NOVAS TERAPIAS ERGOGÊNICAS NO TRATAMENTO DA DPOC
PARTE 1

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) caracteriza-se por limitação ao fluxo aéreo que não é totalmente reversível, sendo geralmente progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases nocivos. Apesar de o tratamento medicamentoso ser destinado ao órgão que é primariamente acometido, os pulmões, o impacto da terapia broncodilatadora e antiinflamatória sobre a capacidade de exercício pode ser modesto.

Esse fato pode ser explicado pelas novas evidências que apontam a síndrome de disfunção muscular esquelética, caracterizada por atrofia (sarcopenia) e perda de força muscular, como fator importante para a redução da tolerância ao exercício em pacientes com DPOC. A etiologia dessa síndrome parece ser multifatorial, envolvendo descondicionamento, hipóxia sistêmica e/ou hipercapnia, e alterações induzidas pela idade, drogas e depleção nutricional.

A perda progressiva de peso é um achado comum nesta doença, podendo ser identificada em até 50% dos pacientes, especialmente naqueles com predomínio de enfisema pulmonar. Tratase de um fator prognóstico negativo, independente do grau de obstrução, estando associado com aumento da morbidade e mortalidade. Um desequilíbrio energético, causado por redução no consumo e aumento no gasto energético basal, parece estar associado à perda de peso. Comumente, a perda ponderal é acompanhada de redução da massa muscular esquelética, hipóxia, dispnéia e inatividade física. Por fim, vale citar que a própria desnutrição leva à metabolização protéica como forma de obtenção de substrato.

Em indivíduos saudáveis, a suplementação ergogênica é utilizada para aumentar a tolerância ao exercício, postergar a fadiga, ou estimular a síntese protéica muscular, visando assim à melhora do desempenho físico. Em pacientes com DPOC, o uso de suplementações hormonais e protéicas visa a seus benefícios ergogênicos, especialmente aqueles relacionados com o aumento da síntese e/ou diminuição do catabolismo protéico.

O uso prolongado de altas doses em humanos pode levar à deterioração da função endócrina normal da testosterona e ao aumento da concentração de estradiol, hormônio feminino que promove o desenvolvimento de características femininas. Outros efeitos colaterais podem ocorrer, como: aumento do colesterol com diminuição do high density lipoprotein, lesões hepáticas, hiperplasia prostática, impotência e esterilidade. O importante efeito anabolizante dos esteróides estimulou diversos pesquisadores a investigar um possível efeito terapêutico dessas substâncias.

UTILIZAÇÃO DAS DROGAS ERGOGÊNICAS E SEUS EFEITOS

O DECANOATO DE NANDROLONA intramuscular (Deca-Durabolin®) foi utilizado em um estudo que envolveu pacientes com DPOC moderada a grave, com e sem depleção muscular. Diferentes doses foram utilizadas, por oito semanas, para os sexos masculino (50 mg) e feminino (25 mg).
Resultado: os pacientes depletados, recebendo suplementação hipercalórica (420 kcal) mais nandrolona, tiveram maior ganho de peso e aumentos de massa magra e força muscular respiratória do que os indivíduos que receberam somente suplementação nutricional.

Em outro estudo, foram utilizados 50 mg de DECANOATO DE NANDROLONA a cada duas semanas, via intramuscular, por oito semanas, num grupo de homens com DPOC moderada a grave, associados à reabilitação pulmonar.
Resultados: os pacientes suplementados obtiveram maior ganho de massa muscular. Contudo, a função muscular, a capacidade de exercício e o estado de saúde melhoraram de forma similar ao grupo placebo.

A suplementação de ESTANOZOLOL, na dosagem de 12 mg por dia via oral
por 27 semanas e de 250 mg de testosterona via intramuscular no período basal, em pacientes com baixo peso e com pressão inspiratória máxima reduzida. Em associação, foi administrado treinamento dos músculos inspiratórios e de membros inferiores em cicloergômetro.
Resultado: observou-se aumento significativo do índice de massa corpórea, massa magra, e circunferência muscular do braço e da coxa. Entretanto, nenhuma mudança foi observada no teste da caminhada de seis minutos ou na capacidade máxima de exercício.

A OXANDROLONA foi utilizada, na dosagem de 10 mg, via oral, por quatro meses em pacientes com DPOC moderada a grave com baixo peso.
Resultados: foram observados aumento do peso corporal, principalmente da massa magra, aumento clinicamente significativo da distância percorrida em seis minutos e diminuição progressiva do uso de medicamentos. O efeito colateral mais comum foi o edema (17%), tratado com redução da dose ou cessação da medicação e uso de diuréticos.

TESTOSTERONA, utilizaram-se 100 mg em homens com DPOC moderada a grave que apresentavam baixos níveis de testosterona.
Resultados: observou-se maior aumento da massa magra e de força muscular no grupo que recebeu suplementação associada a treinamento em relação a um grupo que recebeu apenas testosterona.

Recentemente, alguns autores administraram 250 mg de testosterona a cada quatro semanas, por 26 semanas, em homens com DPOC moderada a grave, sem intervenção reabilitadora.
Resultado: Houve aumento de massa magra, diminuição de massa gorda e melhora na qualidade de vida sexual no grupo suplementado em relação ao grupo placebo.

A correlação entre redução da massa muscular e mortalidade em pacientes com DPOC poderia justificar o uso de esteróides nesta população, já que a suplementação com estas substâncias se mostrou eficiente em aumentar o peso corporal e a massa muscular. Entretanto, deve-se assegurarse, antes do início da terapêutica, da inexistência de neoplasia prostática e ou hepatopatia significativa, já que ambos os processos podem ser acelerados com a suplementação.

CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA LER O RESTANTE DO ARTIGO
NOVAS TERAPIAS ERGOGÊNICAS NO TRATAMENTO DA DPOC PARTE 2