NOVAS TERAPIAS ERGOGÊNICAS NO TRATAMENTO DA DPOC
PARTE 2

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Suplementação de CREATINA em 38 pacientes estáveis com DPOC moderada a grave. A suplementação foi dividida em duas fases: fase de ataque (15 g/dia por duas semanas) e de manutenção (5 g/dia por oito semanas), esta última associada ao treinamento físico.
Resultado: foi observado aumento da massa magra, força e endurance muscular periférica com o uso de creatina, especialmente após o uso combinado com o treinamento.

Este estudo sugere que a suplementação de creatina pode vir a ser considerada como parte do arsenal ergogênico disponível para ganho de massa magra e melhora estrutural e funcional do músculo esquelético na DPOC. Destaca-se que a creatina é sabidamente segura, com poucos efeitos colaterais: retenção hídrica (no compartimento intracelular), dores musculares e, ocasionalmente, cãibras. Entretanto, como em outras terapias ergogênicas, mais estudos de seguimento são necessários para se avaliar os reais benefícios da suplementação de creatina em longo prazo na DPOC.

Suplementação de L-CARNITINA associada ao treinamento físico, em pacientes com DPOC, por um período de seis semanas, na dosagem de 2 g/dia.
Resultados: maior atenuação da freqüência cardíaca num grupo suplementado em relação a outro não suplementado. Adicionalmente, foi observada maior distância percorrida no teste da caminhada de seis minutos no grupo que recebeu suplementação e treinamento físico.

Parece lógico supor que a suplementação de Lcarnitina deva ser utilizada preferencialmente em indivíduos com composição corporal adequada, especialmente no que se refere à reserva adiposa, já que a substância estimula a utilização de gorduras como substrato. Assim como em relação a outras substâncias, mais estudos com L-carnitina são necessários para a verificação de seus potenciais
benefícios em pacientes com DPOC.

AMINOÁCIDOS DE CADEIA RAMIFICADA (ACR) na dose de uma unidade a cada 7 kg por cinco semanas, em um grupo de pacientes com DPOC.
Resultado: houve melhora no consumo de oxigênio de pico e da carga máxima nos grupos estudados, porém sem diferença estatística entre os grupos. Foi observado diminuição da hipoxemia em repouso e da hipercapnia, entre o início e o final do estudo no grupo suplementado. Entretanto, não há referência se os pacientes estavam ou não internados. Portanto, a melhora gasométrica pode ter sido devida à recuperação da estabilidade clínica e não ao efeito direto dos ACR sobre os centros respiratórios ou na relação ventilação/perfusão, como especulado pelos autores.

Os poucos estudos que discutem o uso de ACR em pacientes com DPOC são de baixa qualidade metodológica. Entretanto, há fundamentação teórica para que mais investigações sejam realizadas com estas substâncias para se avaliar seus possíveis benefícios nesses pacientes.

A ação do HORMÔNIO DE CRESCIMENTO RECOMBINANTE (rhGH) em pacientes com DPOC avançada, aplicado via subcutânea (30 mg/kg/dia, por quatro dias e, posteriormente, 60 mg/kg/dia por mais quatro dias), em seis pacientes com perda de peso, que estavam recebendo nutrição parenteral.
Resultados: a administração do hormônio do crescimento associou-se com aumento do gasto energético basal e da oxidação de gorduras, além da diminuição da oxidação de glicose. Foi observada melhora no balanço nitrogenado, um efeito potencialmente relevante para pacientes com baixo peso.

Analise dos efeitos da suplementação de 0,05 mg/kg/dia de rhGH via subcutânea por três semanas, em sete pacientes com DPOC e baixo peso.
Resultados: houve ganho significativo de peso e melhora do balanço nitrogenado. Em termos funcionais, a força muscular respiratória, avaliada pela pressão inspiratória máxima, aumentou, em média, 33% em seis pacientes e diminuiu em 8% em um indivíduo. Não houve mudanças na endurance muscular respiratória.

Efeitos da administração de 0,15 UI/kg de rhGH via subcutânea por dia, durante três semanas em dezesseis pacientes estáveis.
Resultados: observou-se aumento da massa muscular, porém sem reflexo na performance muscular respiratória ou na capacidade de exercício. Secundariamente, houve aumento do gasto energético basal, com elevação da taxa metabólica (consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono), atribuído ao efeito termogênico do rhGH, além de aumento da renovação protéica e lipólise.

Os efeitos do rhGH na capacidade funcional de pacientes com DPOC são controversos, e devem ser analisados cautelosamente devido ao reduzido número de publicações, ausência de grupo controle e uso isolado da terapia ergogênica, isto é, sem treinamento físico. Além disso, os estudos foram realizados por curto período de tempo (cerca de três semanas), o que mostra alterações agudas no metabolismo e força muscular, não se conhecendo, portanto, seus efeitos em longo prazo.

Outro aspecto a ser explorado em novos estudos é o da relação entre custo e eficácia, já que a suplementação do rhGH é dispendiosa, e, como comentado, seus benefícios clínicos ainda estão para ser comprovados. A revisão da literatura disponível permite assinalar que, entre os suplementos ergogênicos avaliados, os esteróides anabolizantes, desde que utilizados em doses adequadas e por tempo limitado, parecem ser os mais promissores na DPOC. Evidências preliminares também apontam bons resultados com o uso da creatina e da L-carnitina e, em menor grau, com os aminoácidos de cadeia ramificada. O emprego do rhGH parece limitado em nosso meio devido ao custo elevado e à administração parenteral.

Por fim, devido ao efeito modulador do uso de corticosteróides na resposta ao tratamento com suplementação nutricional, a utilização de suplementos ergogênicos pode ser útil nos pacientes que fazem uso regular destas drogas.

Autores: DEBORA STROSE VILLAÇA, MARIA CRISTINA LERARIO, SIMONE DAL CORSO, JOSÉ ALBERTO NEDER JORNAL BRASILEIRO DE PNEUMOLOGIA